sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Não há "santos" na F1. Mas tudo tem um limite...

Esse posto será longo...

Esperei essas duas semanas para escrever sobre o caso do GP de Cingapura de2008.

A história: nelson Angelo Piquet prestou depoimento a FIA falando que, por orientação da equipe Renault (leia-se Flavio Briatore), bateu de propósito para permitir que Fernando Alonso vencesse a corrida.

Antes de falar sobre o que eu acho disso tudo, alguns fatos:

- Alonso parou nos boxes para seu reabastecimento com 12 voltas completadas. Para quem iria largar em 15.º numa pista de Rua, não é uma estratégia realmente muito inteligente, em condições normais;

- Nelsinho bateu quando haviam sido completadas 12 voltas. E daí? Daí que, assistindo a corrida, vários pilotos deveriam parar nas voltas 15 e 16, dentre eles Rosberg, Kubica e Barrichello;

- Após a saída do Safety Car (e da palhaçada da Ferrari no pit de Felipe Massa), a ordem dos pilotos era a seguinte: Rosberg, Trulli (1 parada), Fisichella (1 parada), Kubica e Alonso;

- Cerca de 10 voltas após a relargada, Rosber e Kubica tiveram que parar nos boxes por 10 segundos para cumprir punição. Trulli e Fisichella foram superados. E a vitória ficou, de certa forma, fácil para Fernando Alonso (nota: Barrichello também seria punido, se não quebrasse logo após sua parada);

- Os autores da denúncia à FIA foram Nelson Piquet, pai e filho. O depoimento de Nelsinho (rubricado pelo próprio) vazou para a imprensa nessa semana;

- Acabo de ler uma notícia no site globo.com que a telemetria do carro de Nelsinho confirma a batida intencional;

- o que nenhum site publicou (pelo menos eu não vi): "coincidência", na corrida seguinte em Monte Fuji, Alonso venceu e Nelsinho teve sua melhor corrida (e não resultado) do ano, chegando na quarta posição, além da renovação de seu contrato.

Antes de mais nada, quero deixar claro o que eu sempre pensei: não há "santos" na F1 e os "bonzinhos", geralmente, ficam mesmo para trás.

Porém, para tudo há um limite. E nesse caso o limite foi ultrapassado. De longe.

A começar: mandar bater para que o companheiro vencesse? E ainda obedecer essa ordem estúpida? Isso é demais... quando Barrichello estacionou seu carro para Schumacher ganhar na Áustria em 2002 foi um absurdo. Mas, ao menos, não teve que bater para que isso acontecesse.

Essa situação é bem pior do que as batidas entre Senna e Prost em 1989 e 1990 e de Schumacher em Hill e Villeneuve, em 1994 e 1997. Porque, nesses 4 casos, não houve uma ordem da equipe para bater. Muito menos para ajudar outra pessoa.

Os dados da telemetria, divulgados há pouco, colocam uma bela ducha de água fria nas declarações dadas por Briatore ontem, que chegou a insinuar que Nelsinho seria homossexual. Como se isso fosse uma coisa fora do comum nos dias atuais e como se ele, Briatore, tivesse uma vida sexual supernormal. Suas peripécias estão em vários sites do planeta...

Punição? Sim e deve ser dura. Para todos. Segundo o que se noticia, Nelsinho foi beneficiado pela delação premiada e não será punido. Mas deveria. O que ele fez não se faz. Que tivesse sido um pouco mais inteligente, não tivesse batido e dado um jeito de gravar a dura que levaria de Briatore e Pat Symonds. E denunciasse logo em seguida.Fez o que fez para ter seu contrato renovado e calou-se por 10 meses, o que é inaceitável. Para mim, sua carreira na F1 acabou, pois sua moral está acabada. Quem se sujeita a isso pode fazer algo bem pior... nunca mais deveria pilotar um carro de corrida.

A equipe Renault? Deve ser banida, o que seria péssimo para a marca. Não me lembro de uma equipe ou montadora ter sido banida da F1. Até em casos suspeitos, as equipes alegam dívidas e declaram falência. Mas o banimento é medida de rigor.

Pat Symonds e Flavio Briatore também devem ser banidos da F1. Aliás, Briatore estava "na prorrogação" há muito tempo. E suas atitudes são muito questionáveis desde que assumiu o controle da Benneton em 1990.

E Fernando Alonso nessa história? Nelsinho afirmou que ele não sabia de nada.

Mentira, pura lorota. Duvido que Alonso, que se desesperou no sábado em Cingapura quando seu carro quebrou e teve que largar em 15.º, não questionou a estratégia de largar atrás com pouco combustível numa pista sem pontos de ultrapassagem. Seu desespero na noite anterior denota que ele tinha um bom carro para a corrida e largar atrás seria péssimo. Detalhe, Alonso foi o primeiro (e único) a parar antes da batida.

Não saber de nada? Se não soube na hora, teve conhecimento logo depois. E assim cai de vez a máscara do "anjo espanhol", aquele que teria trazido o bem a F1 ao derrotar Schumacher, o chamado "Dick Vigarista". Acredito que todos os pilotos que trabalharam com Briatores foram ou são "Dick Vigaristas".

O espanhol deve ser punido? Sim, com certeza, pois foi no mínimo conivente com a situação. Suas declarações sobre o ocorrido são contraditórias e perdidas. Não sabia? E agora, quando a coisa foi "jogada no ventilador", por que não procurou saber? Afirmou que isso não aconteceu. Com os dados da telemetria, fica difícil negar...

Lembre-se, dos últimos 3 grandes escândalos da F1 (ah, os tais 7 décimos e a McLaren... quem fala o que quer...) Alonso esteve envolvido em 2. Vale a pena pensar sobre isso...

Mas duvido que Fernando Alonso seja punido. E por várias razões. A começar pelo fato de que ele deve mesmo ir para a Ferrari. Se não em 2010, no máximo em 2011. Além disso, os patrocinadores espanhóis despejam um bom dinheiro na F1, o Santander patrocinará a Ferrari já em 2010, a Espanha é o único país que tem duas corridas na temporada... enfim, são muitos os interesses na permanência de Alonso.

Só não me venham falar que o espanhol não sabia de nada. Isso é incogitável. Alguém aqui acha que o Presidente da República não sabia do mensalão?

Um último pensamento: onde está Bernie Ecclestone? Deve estar se divertido demais. Conseguiu tirar Ron Dennis da F1 e agora recebe a cabeça de Briatore numa bandeja... realmente, esse homem é muito forte nos bastidores, independentemente do seu poder econômico...

Um comentário:

Wanderson Marçal disse...

Há excessos, mas em linhas gerais concordo.